De “…coisa ainda dos Godos…” a “…pórtico d´algum edifício Grandioso, por quanto n´elle vemos ainda hoje dois trancadores bem formados…”, o imponente arco romano de Bobadela é, na verdade, o acesso nascente do forum. O arco de volta perfeito foi construído em grandes blocos de granito, de silharia almofadada (aparelho rústico) e assentes sem qualquer argamassa. As suas aduelas foram rematadas por uma cimalha de moldura muito simples. Os elementos arquitetónicos que compõem o arco apresentam um par de orifícios, previamente talhados em lados opostos, onde era fixado o forfex (gancho de metal empregue para elevar os pesados blocos, no momento da construção do monumento). As extremidades deste robusto “alicate” coincidiam com os dois pequenos orifícios. A pressão exercida pelo forfex sobre os orifícios permitia que os blocos de granitos fossem, deste modo, colocados no devido lugar.
O anfiteatro romano de Bobadela foi utilizado desde os finais do séc. I d.C. até finais do Séc. IV d.C. como local de jogos e lutas. Era construído por uma arena elíptica, de orientação norte-sul, com um pavimento em areão grosso. O muro do podium que circundava a arena era marcado por duas entradas no seu eixo maior e constituído com fiadas de blocos de granito e rematados por uma cornija de duas peças. O enchimento da cavea (celas subterrâneas), com cerca de 15m de largura, aproveitou sempre que possível o afloramento rochoso, e sobre ele assentavam as bancadas de madeira.
Na igreja velha de Bobadela, demolida na década de 1740 e substituída por um novo templo ao gosto barroco, achava-se uma inscrição cujo texto se encontra atualmente gravado na sobre-verga da porta principal da igreja matriz de Bobadela. A epígrafe, aliás truncada e incompleta, foi talvez destruída ou utilizada como material de construção da nova igreja. Da tradução do texto patente nesta mensagem talhada na pedra, poderá depreender-se que Júlia Modesta (uma possível sacerdotisa de elevada condição religiosa), na qualidade de esposa do flamen (sacerdote) da Lusitânia, C. Cantius Modestinus, refez as portas do forum às suas expensas. Esta epígrafe, que recorda também a splendidissima civitas, prova que houve na planura da várzea bobadelense uma capital de civitas que compartilhava com Viseum o vasto planalto da Beira central ou Beira d´aquém da Serra, que as serras da estrela, do Montemuro e do Caramulo delimitavam. Porém, não é possível ainda saber o nome romano da cidade, pelo simples motivo, de não ter sido descoberta qualquer lápide que esclareça tal dúvida.